Caçando adversários
Uma das sabedorias antigas dos mineiros ensina que, na política, não existem gestos gratuitos. Todos têm consequência.
E não só para quem os pratica.
Muitas vezes, os efeitos de um ato individual atingem correligionários e
companheiros.Podem, por exemplo, afetar de maneira ampla a imagem do
partido a que pertencem. Mudam a percepção da sociedade a respeito de
seus integrantes.Quando é para o bem, ótimo. Mas pode ser para o mal.
Nesses casos, o ônus é compartilhado. Todos pagam por ele.
A decisão da Executiva Nacional
do PSDB de recorrer à Justiça contra os "blogueiros sujos" que o
criticam é um desses.O verdadeiro inspirador da ação foi o candidato do
partido a prefeito de São Paulo, mas suas consequências negativas não se
circunscrevem a ele. O gesto de Serra alcança coletivamente os tucanos.
Em si, é apenas uma reação tola.
Que expectativa de sucesso tem o ex-governador? Será que acredita que
conduzir o PSDB a uma cruzada contra os responsáveis por blogs que
antipatizam com ele redundará em alguma vantagem para sua
candidatura?Movido por sua insistência, o partido representou à
Procuradoria-Geral Eleitoral para denunciar o "uso de recursos públicos"
no financiamento de "blogs, sites e organizações (?)" que funcionariam
como "verdadeiras centrais de coação e difamação de instituições
democráticas".
Na prática, o que o PSDB pretende é
que empresas e bancos estatais sejam proibidos de comprar espaço
publicitário em blogs contrários ao partido e às suas lideranças. A
argumentação de que é movido pelo zelo de proteger as instituições é
fantasiosa. Aliás, sequer cabe aos partidos políticos esse papel.
O que Serra quer mesmo é impedir
a manifestação de seus adversários.Talvez tenha se acostumado com a
convivência que mantém com alguns veículos e comentaristas da nossa
indústria de comunicação. De tanto vê-los defendendo seus pontos de
vista e acolhendo suas opiniões, convenceu-se que os críticos não
mereceriam lugar para se expressar.
O fascinante na argumentação é
que não o incomoda (ou a seu partido) que existam "blogs, sites e
organizações (?)" - bem como revistas, jornais e emissoras de televisão e
rádio - que recebam investimentos em propaganda do setor público e
façam oposição até agressiva ao governo.
Parece que acham isso natural e
que tais aplicações se justificariam tecnicamente. Se determinado
veículo tem leitores, não haveria porque excluí-lo do plano de mídia de
uma campanha de interesse de um órgão ou empresa pública. Fazê-lo
equivaleria a puni-lo por um crime de opinião.
Se vale para os órgãos de
comunicação hostis ao governo e ao "lulopetismo", por que não se
aplicaria no caso inverso? Seria errado anunciar em blogs com visitação
intensa, apenas porque seus responsáveis não simpatizam com os tucanosOu
Serra e seu partido aplaudiriam se o governo proibisse que seus órgãos
comprassem espaço publicitário na imprensa oposicionista?
A decisão sobre a alocação
dessas verbas pode ser questionada com base em critérios objetivos: tem
determinada emissora suficiente audiência para cobrar seus preços?
Aquele jornal tem a circulação que afirma? O blog ou site em questão tem
volume relevante de acessos?
Fora disso, é apenas castigar -
ou querer castigar - quem tem opinião diferenteEngraçado lembrar o
destaque que o PSDB e suas figuras de proa, como Fernando Henrique, veem
dando à internet na discussão do futuro do partido.Tomara que não
pensem como Serra: que na internet só podem ficar os "limpos" - os que o
aplaudem -, pois os "sujos" - os que o questionam - devem ser banidos.
Por: Marcos Coimbra
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