JN dá 19 minutos à acusação do mensalão e 8 segundos à defesa
O colunista da Folha de São Paulo Janio de Freitas usou em artigo de
sua lavra publicado na Folha de São Paulo na terça-feira (31.07) uma
alegoria da qual este blog tem se valido à exaustão. Os leitores desta
página identificarão a semelhança de trecho daquele artigo – trecho que
reproduzo abaixo – com o que aqui tem sido dito.
—–
“O julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal é
desnecessário. Entre a insinuação mal disfarçada e a condenação
explícita, a massa de reportagens e comentários lançados agora, sobre o
mensalão, contém uma evidência condenatória que equivale à dispensa dos
magistrados e das leis a que devem servir os seus saberes (…)”
Jânio de Freitas, O julgamento na imprensa, Folha de São Paulo, 31.07.12
—–
Os pistoleiros pagos a peso de ouro pela mídia oligopolista para
assassinarem reputações de desafetos políticos dos patrões nem poderão
dizer que esse jornalista é “mensaleiro”, pois é membro do conselho
editorial do jornal Folha de S. Paulo.
Frase de Freitas sobre a imprensa, imortalizada na Wikipedia, resume a
razão pela qual essa imprensa está promovendo legítimo linchamento de
todos os réus do mensalão indistintamente, de forma que, como bem disse o
jornalista, subentende-se que o julgamento será mera formalidade para
uma condenação já decidida.
—–
“Os meios de comunicação brasileiros nunca deixaram de
ser parte ativa nos esforços de conduzir o eleitorado. Sua origem e sua
tradição são de ligações políticas, como agentes de facções ou partidos”
Janio de Freitas
—–
A comprovar a opinião do eminente jornalista de que a imprensa
corporativa e oligopolista atua como agente de facções e partidos está o
massacre que o principal telejornal da Globo, o Jornal Nacional, está
promovendo contra os réus do mensalão desde segunda-feira, quando
anunciou e principiou a ocupar imenso espaço com o julgamento que começa
nesta quinta-feira.
Nos primeiros dois dias desta semana, o Jornal Nacional vem entrando
no ar com extensas matérias sobre o mensalão. Na segunda-feira,
rememorou o caso ao longo de 11 minutos e 30 segundos; na terça, a
matéria ocupou 7 minutos e 41 segundos. Desses quase vinte minutos de
acusações, o telejornal contrapôs inacreditáveis 8 segundos – e só na
terça-feira – à defesa de um dos réus, José Dirceu, exibindo frase de
seu advogado.
À primeira vista, fica difícil afastar a sensação de que essa meia
dúzia de grandes órgãos de imprensa conseguirá que o Supremo Tribunal
Federal se submeta aos seus ditames e condene, sem mais delongas, todos
os 38 réus por todas as acusações que lhes foram assacadas. Todavia, já
surgem indícios de que a Justiça pode não compactuar com a farsa.
O indício de que assim será vem do ministro do STF José Antonio Dias
Toffoli, que vem sendo questionado pela mídia por ter servido ao governo
Lula e advogado para petistas assim como o ministro Gilmar Mendes
serviu ao governo Fernando Henrique Cardoso e advogou para tucanos.
O caso de Gilmar é mais sério, pois, há pouco, envolveu-se em
polêmica com o ex-presidente Lula ao denunciar tardiamente, após longo
período da ocorrência do fato, que se encontrou com ele e que, naquele
encontro, teria sofrido pressão para absolver réus do mensalão. Além
disso, a atuação de Gilmar ao longo do governo Lula foi marcada por
reiteradas acusações a ele.
O indício de que o STF poderá dar nos autos a resposta à pressão
injusta, ilegal e antidemocrática que vem sofrendo da mídia para
condenar os réus como ela quer se encontra na decisão de Toffoli de
participar do julgamento do mensalão à revelia do que pregam esses
órgãos de imprensa.
Aliás, vale relatar que a Folha de São Paulo questionou Toffoli e
este nem lhe deu resposta. Ainda assim, é pouco. Esse é só um indício,
pois outros juízes podem ceder.
O cerceamento do direito de defesa dos réus do mensalão é flagrante. A
mídia tenta criar um clima de fato consumado como o que estabeleceu em
outros julgamentos que não passaram de mera formalidade, mas que, ao
menos, tinham contra os réus daqueles processos não politizados, como
por exemplo o casal Nardoni, provas inquestionáveis, o que inexiste
contra parte dos acusados pelo mensalão.
Um blogueiro da Globo chegou a escrever que o STF “apressou” o
julgamento do mensalão porque o ex-presidente Lula teria criado a CPI do
Cachoeira. E asseverou que não se apressa um julgamento para absolver
réus. Ou seja, acusou a Corte de ter agido por motivações políticas
quando seu dever é o de atuar de maneira estritamente técnica.
Como se não bastasse, a Globo e seus satélites na grande imprensa vêm
tratando o ex-presidente Lula em suas reportagens como se fosse um dos
indiciados. O Jornal Nacional chegou a fazer uma montagem gráfica em que
uma ficha do ex-presidente sai de um arquivo de onde estavam saindo
fichas dos réus de fato no inquérito do mensalão.
A mera hipótese de a Suprema Corte de Justiça do país ser encurralada
para decidir como querem grupos empresariais de comunicação constitui
grave ameaça à democracia. Como aceitar que empresários, por mais
poderosos que sejam, possam obrigar um dos três Poderes a tirar a
liberdade e a destruir a honra de cidadãos que, até prova em contrário,
são inocentes?
De onde virá a resistência a esse ataque inaceitável à democracia? Quem se levantará em defesa do Estado Democrático de Direito?
Sem imprensa para dar a acusados e acusadores as mesmas
oportunidades, só restam as ruas aos setores da sociedade que não
aceitam que seja levado a cabo o linchamento de todos os réus do
mensalão, até porque quem conhece o caso sabe que, entre os 38 acusados,
há prováveis culpados, sim, mas também há prováveis inocentes.
Em 2007, nasceu neste blog a ONG Movimento dos Sem Mídia. Esse
Movimento foi criado justamente por conta da pressão da mídia contra o
STF evidenciada por espionagem do jornal Folha de S. Paulo contra o
ministro Ricardo Lewandowsky, que o jornal relatou que disse ao telefone
que a Corte que integra aceitou o inquérito do mensalão sob pressão da
mídia.
Infelizmente, por ter inscrito em seu Estatuto que não se financiaria
com dinheiro público, a ONG não adquiriu musculatura para enfrentar um
momento como este. Não temos condição de levar às ruas mais do que
algumas centenas de cidadãos.
Todavia, essas pessoas que tantas vezes já acorreram ao chamado deste
blog certamente estarão dispostas a integrar esforços que envolvam
outros movimentos sociais como, por exemplo, a CUT, que já declarou que
irá às ruas contra a manipulação do julgamento do mensalão.
Na opinião deste blog – e de todos os mais de 500 filiados ao
Movimento dos Sem Mídia –, não há mais o que esperar. A manipulação já
está ocorrendo. A imprensa oligopolista que age a serviço de facções,
como diz Janio de Freitas, está promovendo um linchamento, retirando dos
acusados pelo mensalão, indistintamente, o direito de defesa.
Custará muito caro ao país e a todos os que anseiam pela continuidade
de seu soerguimento do buraco em que foi atirado pela direita
demo-tucano-midiática a inação diante dessa barbaridade que está
entrando todos os dias em nossas casas através de concessões públicas de
televisão aberta.
Mesmo que os agentes de facções políticas citados por Janio de
Freitas não atinjam seus objetivos eleitorais, assim como foi em 2006 e
em 2010, condenar cidadãos brasileiros só porque meia dúzia de donos de
jornais, revistas e televisões querem fará este país retroagir séculos,
institucionalmente.
Para concluir, este blog exorta a todos os que entendem a gravidade
do momento que vive o país a não se acomodarem e a se engajarem na
resistência à mídia. A injustiça que se pretende fazer a alguns é ameaça
que está sendo feita a todos, inclusive àqueles que querem conseguir na
Justiça o que não conseguiram nas urnas.
Às ruas, brasileiros!
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