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quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Niko Schvarz: A magnífica vitória de Dilma

O jornalista e dirigente político uruguaio, Niko Shvarz, que acompanhou de perto a eleição presidencial no Brasil, conta neste artigo, publicado em veículo de grande circulação de seu país, os momentos marcantes do final da campanha e da vitória de Dilma Rousseff no histórico 31 de outubro.


Por Niko Schvarz

Tive o privilégio de assistir no domingo passado (31), em Brasília, à explosão de alegria coletiva que surgiu quando os números da votação, extremamente rápida, consagravam a vitória irreversível de Dilma Rousseff sobre José Serra.

Isto se associou à celebração, em seguida, na Praça dos Três Poderes, da conquista do governo do Distrito Federal por Agnelo Queiroz, do PT, que derrotou Weslian Roriz, mulher do ex-governador Joaquim Roriz, impedido de candidatar-se por problemas de corrupção. Queiroz é um jovem médico, ex-ministro dos esportes no primeiro governo de Lula.

Nesse meio tempo, ouvimos no Hotel Naum, em meio a um tumultuado transbordamento de repórteres e cinegrafistas de todo o mundo, a primeira exposição de Dilma Rousseff como presidente eleita para o terceiro governo consecutivo do PT, já proclamada pelo Tribunal Superior Eleitoral. Foi um discurso sereno, de profundo conteúdo programático, que se propôs à continuidade e extensão do governo Lula (ao lado de quem se formou e a quem dedicou emocionadas palavras por sua qualidade humana e como governante), destacando com caráter prioritário a erradicação da miséria extrema, "para superar o abismo que ainda nos separa"; as soluções para o problema da moradia (ela dirigiu o programa Minha Casa, Minha Vida) e da alimentação; a educação, que deve buscar a excelência em todos os níveis; a atenção à saúde de qualidade, que chegue a todos e, em primeiro lugar, às crianças, aos idosos e deficientes; e os cuidados com o meio ambiente.

Disse que a eleição registrou um avanço democrático em todas as esferas da sociedade, uma valorização da democracia em todas as suas formas e "o caminho sagrado do voto popular". Ele falou sobre a exploração das riquezas da camada pré-sal e das novas gigantescas jazidas de petróleo e gás, cujos lucros serão destinados a cumprir com objetivos sociais e de educação.

Chamou a atenção a forma com que se referiu à campanha midiática contra sua candidatura, que chegou aos extremos mais repulsivos de maldade e degradação que se possa imaginar. Se pronunciou pela mais irrestrita liberdade de imprensa, a mais ampla liberdade religiosa e pela defesa dos direitos humanos em toda a sua extensão. Isto, quando até mesmo o Papa (o mesmo que tem uma infinita condescendência para com os padres pedófilos) tinha interferido no processo eleitoral, procurando mobilizar seus seguidores na campanha contra Dilma.

Lula afirmou que Serra saiu diminuído da campanha (na verdade, está liquidado e, aparentemente, o líder da oposição passaria a ser Aécio Neves, de Minas Gerais, o neto de Tancredo Neves, presidente eleito para o fim da ditadura, que morreu sem assumir).
E tem mais: nas vésperas da eleição, Marina Silva começou a denunciar publicamente que a campanha de Serra estava difundindo um blog e um falso e-mail que usava seu nome como se apoiasse Serra. Ela disse que eram "iniciativas fraudulentas" e de "baixo nível" e pediu para que fossem retirados do ar. Os números mostram que o eleitorado de Marina Silva, de quase 20% no primeiro turno, foi dividido entre os dois candidatos.

Depois dos dois turnos, arejada a turbulência da campanha de difamação, vem à luz, sobretudo, a magnitude da vitória alcançada pelo PT e da coalizão de apoio ao governo. Dilma ganhou com 56,05% dos votos contra 43,95% de Serra. Em termos percentuais, 12,10% de vantagem. Em votos, mais de 12 milhões de diferença entre os 55.752.508 votos da petista e os 43.711.350 do "tucano" (quando faltava contabilizar apenas a décima parte de um ponto percentual). Uma surra em toda a linha.

O número de votos alcançados por Dilma Rousseff é o segundo maior na história brasileira. Somente o supera Lula no segundo turno da eleição de 2006, quando atingiu 58.295.042 votos (esta foi uma eleição peculiar, onde Geraldo Alckmin perdeu dois milhões e meio de votos no segundo turno). Dilma está acima da cifra alcançada por Lula no segundo turno de 2002, que foi de 52.793.364, e, até este momento, era a maior obtida por um presidente do Brasil, que ele mesmo superou na sua reeleição em 2006, em ambos os casos com percentuais nunca alcançados (61,3% e 60,8%).

FH Cardoso ganhou duas eleições sucessivas contra Lula no primeiro turno, em 1994 e em 1998, mas com percentagens significativamente menores (54,3% e 53,1%), superadas pelos três governos sucessivos do PT. Em 1989, Collor ficou mais abaixo (e depois foi deposto por corrupção).

No domingo, 31 de outubro, se elegeram mais 9 governadores que tinham ficado pendentes no primeiro turno. A coalizão do governo elegeu 5: no DF de Brasília, com Agnelo Queiroz, como vimos; no Amapá, com Camilo Capideribe; no Piauí, com Wilson Martins, na Paraíba com Ricardo Coutinho - os três do PSB; e em Rondônia, com Confúcio Moura, do PMDB. Adicionados aos que venceram na primeira rodada, são 17. A coalizão governamental está composta por PT, PMDB, PCdoB, PSB, PDT, PR, PSC, PTC, PTN e PRB.

Em contraste, a oposição (que é composto pelo PSDB, DEM e, vergonhosamente, o PPS de Roberto Freire), ficou com Alagoas, Roraima, Pará e Goiás; com os anteriormente eleitos, chega a 10 governadores.

Uma mudança fundamental foi alcançado na integração da Câmara e do Senado. Em ambos a coalizão governanista obteve avanços significativos e supera a maioria qualificada de 2 / 3. Vamos ver.

Propaganda aberta

A oposição fez circular, pelo YouTube e outros meios, um material que aludia (sem nomear) a alguém que também havia conseguido melhorar as condições de vida das pessoas, a moradia e alimentação, aumentou as fontes de trabalho, controlou a inflação... e, em seguida, aparecia a imagem de Hitler com o seu cão.

Depois se difundiu infinitamente a descarada interferência do Papa na campanha eleitoral contra Dilma. Mas também apareceu (com bem menos difusão, é claro) o antídoto. Vimos um descontraído samba da bolinha de papel, ridicularizando a farsa da Serra, quando ele fingiu ter sido atingido por um objeto atirado por manifestante e ingressou em um CTI. Tudo mentira, não tinha acontecido nada.

Fonte: La República, 3 de novembro de 2010

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