O legado de Cerra: Oposição é a menor da História
Saiu na Folha (*):
Governo Dilma enfrenta a menor oposição desde 1988
Partidos que não apoiam petista só controlam 17,5% da Câmara dos Deputados. PSD, que esvaziou o DEM, atua como aliado em votações mesmo sem fazer parte da coalizão governista
SILVIO NAVARRO
UIRÁ MACHADO
DE SÃO PAULO
A presidente Dilma Rousseff (PT) chega ao final de seu primeiro ano no poder com a menor oposição na Câmara desde a Constituição de 1988.
Os quatro partidos que hoje se opõem sistematicamente ao governo -PSDB, DEM, PPS e PSOL- somam hoje 91 cadeiras, o equivalente a 17,5% da Casa. O percentual representa quase a metade da oposição que Lula enfrentou após sua reeleição (30,5%).
Herdeira da coalizão formada por Lula, Dilma se beneficiou da popularidade do ex-presidente, que ajudou a eleger um grande número de deputados federais aliados.
Em 2010, PSDB, DEM e PPS elegeram juntos 109 deputados. Quatro anos antes, quando Lula foi reeleito, foram 153. O PSOL teve três deputados em ambos os períodos.
O cenário se repete no Senado, onde Lula teve dificuldades. Foi lá que o governo perdeu a votação que extinguiu a CPMF, deixando de arrecadar R$ 40 bilhões ao ano.
Durante a campanha de Dilma, o ex-presidente enfatizou a importância de aumentar a maioria no Senado.
A estratégia deu certo. Hoje os quatro partidos oposicionistas têm 17 senadores, número que era 50% maior no segundo governo Lula.
DESIDRATAÇÃO
Para piorar a vida da oposição, a criação do PSD neste ano desidratou o DEM. Em fevereiro, o partido somava 43 deputados. Hoje tem 27.
Segundo o Banco de Dados Legislativos do Cebrap, um centro de estudos, o PSD, embora não faça parte da coalizão de Dilma, atua na Câmara como seu aliado e sempre vota a favor do governo.
O partido chefiado pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, pode entrar no governo na reforma ministerial prevista para janeiro.
Dilma conta ainda com o apoio de outras legendas independentes, como o PTB e o PR, que deixou formalmente a coalizão, mas continua votando a favor do governo.
“Isso é comum sobretudo em regimes parlamentaristas. No Brasil pós-Lula, os independentes às vezes nem estão do mesmo lado na escala ideológica, mas votam com o governo”, afirma o cientista político Fabiano Santos, da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).
Como diz o Oráculo de Delfos, “São Paulo não pensa o Brasil”. Quando Cerra empunhou a espada às margens do Ipiranga e bradou “a luta continua”, ao perder a Presidencia pela segunda vez ele, de novo, amarrou a Oposição à elite branca – e separatista – de São Paulo. Quando o Amaury Ribeiro Junior disse no Sindicato dos Bancários – clique aqui para ler “Protógenes vai ligar a privataria à divida externa” – que o livro dele é um grito contra a elite tucana de São Paulo, ele refletia esse sentimento silencioso (ainda) do eleitorado que fez encolher a representação dessa elite.
Uma das vítimas desse predominio da elite branca – não há um negro nos eventos dos tucanos de São Paulo, nem daqueles aque adoram o Ali Kamel – é o Aécio Never.
O PiG (**) e os tucanos de São Paulo trancaram Aécio em Minas.
É verdade que o Aécio até hoje não fez por merecer sair de trás dos morros de Minas. Mas, se fizesse, o PiG (**) – ou seja, a elite tucana de São Paulo – não deixaria.
Cerra já tem seu lugar na História.
Ele é o Jim Jones da Oposição.
Paulo Henrique Amorim
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