Páginas

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

É preciso enfrentamento


Presidente diz que os países não devem se submeter à recessão

A presidente Dilma Rousseff disse, em reunião com presidentes e representantes de dez países da África e América Latina, em Salvador, que vê na crise econômica internacional uma “espécie de repetição” do que chamou de “nossas duas décadas perdidas”.
Nesses casos, a recessão, segundo ela, foi imposta como uma saída para todos os problemas. “Nós ficamos 20 anos no Brasil aceitando, de uma triste forma, que as conquistas sociais fossem paralisadas pela necessidade de reciclagem das dívidas soberanas da América Latina”, afirmou. “Nós sabemos que esse processo não dá certo, ele leva à recessão, ao desemprego, a perdas de direitos, mas não tira os países da crise.”
De acordo com a presidente, só se sai da crise “adotando práticas corretas, práticas que não impliquem no desperdício dos recursos públicos, que impliquem em disciplina, e combinadas com políticas de investimento, de expansão de consumo e de inclusão social”.
No encontro, Dilma conclamou os países da América Latina e Caribe a uma ação conjunta para o enfrentamento da crise. “Eu manifestei minha opinião no G20, em Cannes, a preocupação do Brasil com o risco que a instabilidade, tanto na Eurozona quanto nos Estados Unidos, tem sobre nossos países, porque pode prejudicar nossas conquistas sociais e agravar as desigualdades sociais e raciais.”
A presidente lembrou que os países latinos têm “uma longa prática em relação ao FMI (Fundo Monetário Internacional)”, e disse que a experiência não foi boa. “Nós só tivemos a possibilidade de crescer pelos nossos pés quando conseguimos pagar o fundo monetário e, de fato, não ter mais de aceitar as suas proposições”.
20 ANOS DE ESPERA
No fim do discurso, Dilma re
lativizou e disse que “cada país é um país, cada processo é um processo, cada tempo histórico é um tempo histórico”. “Nós levamos 20 anos (para começar a crescer). Espero que os outros países levem muito menos tempo do que nós”, declarou.
Em Salvador, Dilma participou do encerramento do Encontro Iberoamericano de Alto Nível em comemoração ao Ano Internacional dos Afrodescendentes. No encontro, foi proposta a criação de um fundo internacional para financiar políticas públicas de compensação e reparação racial em países com formação a f ro d e s c e n d e n t e .
O evento reuniu, além da presidente do Brasil, os presidentes do Uruguai, José Mujica, de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, e da Guiné, Alpha Condé, o vice-presidente da Colômbia, Angelino Garzón, e ministros de Estado de Cuba, Peru, Costa Rica, República Dominicana, Angola e Benin, além de representantes de outros dez países da América Latina e da África.
Após o evento, na capital baiana, a presidente Dilma oferece almoço aos chefes de Estado e de governo no Hotel Convento do Carmo, seguido de show com o ex-ministro da Cultura, Gilberto Gil e a ministra da Cultura do Peru, Susana Baca.
Dilma participou, ainda, de encontros bilaterais com o presidente do Uruguai, José Mujica, e com o presidente de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca.
SAIBA +
No Encontro Iberoamericano de Alto Nível em comemoração
ao Ano Internacional dos Afrodescendentes, Salvador foi escolhida a
capital negra da América Latina.
O título, que homenageia a capital baiana, é simbólico.
“Pobreza tem face negra e feminina”
No encontro, a presidente Dilma Rousseff também disse que a pobreza no Brasil tem a face “negra” e “feminina”. “O combate à pobreza e a geração de empregos são importantes fatores de inclusão social dos afrodescendentes até porque, no Brasil, a pobreza tem duas faces: negra e feminina e muitas vezes até infantil”.
Dilma disse que o objetivo de seu governo é “resgatar essas populações” e destacou o Programa Brasil Sem Miséria. O plano, segundo ela, visa “superar a extrema pobreza” e retirar 16 milhões de brasileiros que vivem em situação de miséria.
“Nós temos o compromisso de buscá-los e retirá-los da pobreza. Não é mais as populações correndo atrás do Estado, é o Estado correndo atrás dos negros e negras do País, dos brancos e brancas e dos índios que vivem em extrema pobreza”.
No discurso, Dilma disse que as mulheres negras são “duplamente reprimidas ao longo da história por seu gênero e sua raça” e, em tom de humor, disse que as políticas afirmativas do governo visam as mães de família, porque elas são “inca -pazes” de gastar benefícios como o Bolsa Família “no bar da esquina”.
BRASIL E ÁFRICA
No encontro, Dilma pediu que a relação entre o Brasil e os países africanos seja cada vez mais forte. “Isso significa que nós estamos olhando para uma das raízes mais importantes da formação de nossas culturas”, disse.
No discurso, Dilma lembrou que, no Censo 2010, mais da metade dos brasileiros declararam ter ascendência africana. O número, de acordo com o Palácio do Planalto, representa 97 milhões de pessoas. “Isto é muito importante porque acredito que somos, em termos de país, um dos mais populosos. Sem sombra de dúvida, na nossa forma de viver e de fazer todas as atividades, temos um componente muito forte que trazemos na formação da nacionalidade brasileira”.
De acordo com o Itamaraty, o objetivo principal do encontro é “dar maior visibilidade às contribuições sociais, culturais, políticas e econômicas dos afrodescendentes aos países da América Latina e do Caribe”.
Os líderes debateram ainda sobre políticas públicas estratégicas de inclusão dos afrodescendentes “nos diversos contextos nacionais”.

Por

Nenhum comentário:

Postar um comentário