Foto: Divulgação
Depois dos bancos, Dilma promete encarar montadoras
Presidente pretende abrir caixa-preta dos fabricantes de
veículos e forçá-los a reduzir margens de lucro
247 – Depois de comprar uma briga com o setor
financeiro, na questão das taxas de juros, a presidente Dilma
Rousseff tem agora um novo alvo: as montadoras de automóveis que,
segundo ela, recebem incentivos exagerados do governo federal e
não os transferem aos consumidores. O carro brasileiro é um dos
mais caros do mundo. Leia, abaixo, reportagem da Folha sobre o
tema:
Dilma quer abrir 'caixa-preta' de montadoras e cortar
lucros
Governo avalia que dá incentivos ao setor sem conhecer
sua situação financeira
Para o Planalto, as margens de lucro são altas e deixam
os carros nacionais muito caros em relação aos demais
NATUZA NERY
DE BRASÍLIA
EDUARDO SODRÉ
EDITOR-ADJUNTO DE “VEÍCULOS”
DE BRASÍLIA
EDUARDO SODRÉ
EDITOR-ADJUNTO DE “VEÍCULOS”
Após a batalha da presidente Dilma Rousseff contra os juros dos
bancos, o governo abrirá em breve outro front: quer que as
montadoras de veículos no país abram as contas e margens de lucro.
O Executivo avalia que dá incentivos a um setor sem conhecer a
real situação financeira das fabricantes. Por isso, deseja "sair
do escuro" e, eventualmente, cobrar reduções mais agressivas de
preços, sobretudo, quando houver incentivos federais, como os
anunciados na segunda.
Por lei, companhias de capital fechado, a maioria do setor, não
são obrigadas a divulgar seus balancetes.
Interlocutores de Dilma disseram à Folha que,
após as medidas emergenciais para reduzir os estoques de carros, o
próximo passo é atuar para, se for o caso, reduzir o "spread" das
montadoras.
Trata-se de uma investida semelhante à do Planalto junto aos
bancos, ação que teria rendido, conforme pesquisas extraoficiais
de opinião, alguns pontos percentuais a mais na aprovação de
Dilma.
Procurada, a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de
Veículos Automores) não quis se pronunciar.
Integrantes da cúpula do governo estão convencidos de que o carro
brasileiro é caro não só pelo elevado nível de imposto (cerca de
30%, conforme Anfavea). Afirmam que, se os custos nacionais são
altos, a margem de lucro das fabricantes também é. Em 2009, sob o
impacto da crise externa, houve prejuízo das montadoras em suas
sedes, mas não no Brasil.
Representantes do setor serão chamados a Brasília para negociar a
abertura de contas, e medidas legais podem torná-la obrigatória. O
clima não é de guerra, mas a diferença de preços de carros no país
e no mundo incomoda.
Na Argentina, o Renault Duster 2.0 4x4 é vendido pelo equivalente
a R$ 56.883. No Brasil, custa R$ 61.470. Em parte, essa diferença
é explicada pela carga tributária e pelo "custo Brasil" (logística
e mão de obra). Mas estudos de consultorias apontam lucro até duas
vezes superior à média mundial.
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