O Conversa Afiada
reproduz e-mail de amigo navegante Luís e se pergunta: como será a
revisão do historialismo brasileiro e a versão de que o general Geisel e
o general Golbery são o Washington e o Jefferson da Democracia
brasileira ?:
PHA, tá comendo mosca?
Esta é a notícia do dia, da semana, do ano, da década.
O
cara conta que apagaram o Fleury, confessa pela primeira vez detalhes
do Riocentro, mostra como sumiram com Capistrano, Ana Kucinski et alli.
E tudo tem a santa digital do Ustra.
Agora, a Comissão da Verdade não pode fingir que tá tudo bem.
Bota de manchete e deixa lá um bom tempo. O Brasil precisa saber.
abs.
Exclusivo: livro muda história da ditadura
“Militantes de esquerda foram
incinerados em usina de açúcar”. Delegado revela em livro que viraram
cinzas os corpos de David Capistrano, Ana Rosa Kucinski e outros oito
opositores da ditadura
A primeira confissão do atentado ao Riocentro
Ex-delegado do DOPS conta ter participado atentado, dá nomes dos chefes militares da operação e conta o que deu errado
Tales Faria, iG Brasília
“Participei do atentado ao
Riocentro (durante as comemorações do Dia do Trabalhador, em 1981) e fiz
parte das várias equipes que tentaram provocar aquela que seria a maior
tragédia, o grande golpe contra o projeto de abertura democrática”,
revela o ex-delegado Cláudio Guerra, do DOPS (Departamento de Operações
Políticas e Socias), no livro “Memórias de uma guerra suja”.
O depoimento aos jornalistas
Rogério Medeiros e Marcelo Netto, que acaba de ser publicado pela
editora Topbooks, é a primeira confissão de participação no atentado
feita por um integrante das forças de resistência á redemocratização do
país no final da década de 70.
No Riocentro, bomba explodiu antes da hora do atentado previsto e matou agente de informações do Exército
Cláudio Guerra conta que a
bomba explodiu por engano no colo do sargento Guilherme Pereira do
Rosário por um erro do capitão Wilson Luís Chaves Machado, que dirigia o
Puma onde os dois estavam:
“Aquela bomba era uma das três
que deveriam explodir no show. O capitão Wilson estacionou o veículo
embaixo de um fio de alta tensão e a carga elétrica desse fio, a energia
que passava em cima do Puma, fechou o circuito da bomba, provocando a
explosão. O erro foi do capitão. (…) Eu era especialista em explosivos.”
O ex-delegado dá os nomes dos comandantes da operação, “os mesmos de sempre”:
O coronel de Exército Freddie
Perdigão (Serviço Nacional de Informações); o comandante Antônio Vieira
(Cenimar); e o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra (comandante do
Departamento de Operações de Informações do 2º Exército – DOI-Codi).
Quanto à sua equipe, a missão
seria prender esquerdistas que seriam responsabilizados pelo atentado:
“Fui para lá com uma lista de nomes.”
Mas deu tudo errado. Com a
explosão da bomba no Puma, os militares policiais civis e os policiais
civis que levavam outras duas bombas abortaram a operação.
“O destino daquela bomba era o
palco. Tratava-se de um artefato de grande poder destruidor. O efeito da
carga explosiva no ambiente festivo, onde deveriam se apresentar uns
oitenta artistas famosos, seria devastador. A expansão da explosão e a
onda de pânico dentro do Riocentro gerariam consequências desastrosas.
Era evidente que muitas pessoas morreriam pisoteadas.”
Segundo conta Cláudio Guerra, a
coordenação feita pelo pessoal de inteligência havia mandado suspender
todos os serviços de apoio do Riocentro, incluindo o policiamento e a
assistência médica, para que não houvesse socorro imediato às vítimas.
Até as portas de saída foram trancadas e placas de trânsito com siglas
da VPR (Vanguarda Popular Revolucionária) haviam sido pichadas para dar a
entender que se tratava de uma ação da esquerda.
“Delegado Fleury foi morto pelos militares”
Delegado da ditadura diz ter participado da decisão. E confessa o assassinato de dirigente comunista Nestor Veras
Tales Faria, iG Brasília
Delegado Cláudio Guerra (Foto: Divulgação)
Símbolo da linha-dura do regime
militar, o delegado Sérgio Paranhos Fleury – titular da Delegacia de
Investigações Criminais (DEIC) de São Paulo – foi assassinado por ordem
de um grupo de militares e de policiais rebelados contra o processo de
abertura política iniciado pelo ex-presidente Ernesto Geisel. É o que
afirma Cláudio Antônio Guerra, ex-delegado do DOPS (Departamento de
Operações Políticas e Sociais) do Espírito Santo.
Em depoimento aos jornalistas
Marcelo Netto e Rogério Medeiros, no livro “Memórias de uma guerra
suja”, que acaba de ser editado pela Topbooks, Guerra conta ter
participado da reunião em que foi decidida a morte de Fleury.
Ele próprio teria dado a ideia
de fazer tudo parecer um acidente. Acabou sendo enviado para liquidar o
colega. Mas, por problemas operacionais, a execução teria ficado para um
grupo de militares do Cenimar, o Centro de Informações da Marinha.
No livro ao qual o iG teve
acesso, o delegado confessa ter sido um dos principais encarregados pelo
regime militar de matar adversários da ditadura entre os anos 70 e 80.
Guerra está sob proteção da
Polícia federal. Tornou-se uma testemunha-chave às vésperas do início
dos trabalhos da Comissão da Verdade, criada para apurar violações aos
direitos humanos entre 1946 e 1988, período que inclui a ditadura
militar (1964-1988).
Ele conta ter executado
pessoalmente militantes de esquerda como Nestor Veras, do Comitê Central
do Partido Comunista Brasileiro (PCB), após uma sessão de tortura da
qual afirma não ter participado:
“(Veras) tinha sido muito torturado
e estava agonizando. Eu lhe dei o tiro de misericórdia, na verdade
dois, um no peito e outro na cabeça. Estava preso na Delegacia de Furtos
em Belo Horizonte. Após tirá-lo de lá, o levamos para uma mata e demos
os tiros. Foi enterrado por nós.”
Além do assassinato de Veras,
Guerra conta como matou, a mando de seus superiores, outros militantes
contra o regime, como: Ronaldo Mouth Queiroz (estudante universitário e
membro da Aliança Libertadora Nacional – ALN); Emanuel Bezerra Santos,
Manoel Lisboa de Moura e Manoel Aleixo da Silva (os três, do Partido
Comunista Revolucionário – PCR).
Queima de arquivo
“O delegado Fleury tinha de
morrer. Foi uma decisão unânime de nossa comunidade, em São Paulo, numa
votação feita em local público, o restaurante Baby Beef”, afirma Cláudio
Guerra.
Além dele, segundo conta, estavam sentados à mesa e participaram da votação:
O coronel do Exército Ênio
Pimentel da Silveira (conhecido como “Doutor Ney”); o coronel-aviador
Juarez de Deus Gomes da Silva (Divisão de Segurança e Informações do
Ministério da Justiça); o delegado da Polícia Civil de São Paulo
Aparecido Laertes Calandra; o coronel de Exército Freddie Perdigão
(Serviço Nacional de Informações); o comandante Antônio Vieira
(Cenimar); e o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra (comandante do
Departamento de Operações de Informações do 2º Exército – DOI-Codi), que
abriu a reunião.
“Fleury tinha se tornado um
homem rico desviando dinheiro dos empresários que pagavam para sustentar
as ações clandestinas do regime militar. Não obedecia mais a ninguém,
agindo por conta própria. E exorbitava. (…) Nessa época, o hábito de
cheirar cocaína também já fazia parte de sua vida. Cansei de ver.”
Guerra conta que chegou a fazer
campana para a execução, mas o colega andava sempre cercado de muita
gente. “Dias depois os planos mudaram, porque Fleury comprou uma lancha.
Informaram-me que a minha ideia do acidente seria mantida, mas agora
envolvendo essa sua nova aquisição – um ‘acidente’ com o barco
facilitaria muito o planejamento.”
A história oficial é, de fato,
que o delegado paulista morreu acidentalmente em Ilhabela, ao tombar da
lancha. Mas Guerra afirma que Fleury na verdade foi dopado e levou uma
pedrada na cabeça antes de cair no mar.
“Militantes de esquerda foram incinerados em usina de açúcar”
Delegado revela em livro que
viraram cinzas os corpos de David Capistrano, Ana Rosa Kucinski e outros
oito opositores da ditadura
Tales Faria, iG Brasília
Capa de "Memórias de uma guerra suja", da editora Topbooks (Foto: Divulgação)
Ele lançou bombas por todo o
país e participou, em 1981 no Rio de Janeiro, do atentado contra o show
do 1º de Maio no Pavilhão do Riocentro. Esteve envolvido no assassinato
de aproximadamente uma centena de pessoas durante a ditadura militar.
Trata-se de um delegado capixaba que herdou os subordinados do delegado
paulista Sérgio Paranhos Fleury nas forças de resistência violenta à
redemocratização do Brasil.
Apesar disso, o nome de Cláudio
Guerra nunca esteve em listas de entidades de defesa dos direitos
humanos. Mas com o lançamento do livro “Memórias de uma guerra suja”,
que acaba de ser editado, esse ex-delegado do DOPS (Departamento de
Ordem Política e Social) entrará para a história como um dos principais
terroristas de direita que já existiu no País.
Mais do que esse novo
personagem, o depoimento recolhido pelos jornalistas Marcelo Netto e
Rogério Medeiros, ao longo dos últimos dois anos, traz revelações
bombásticas sobre alguns dos acontecimentos mais marcantes das décadas
de 70 e 80.
Revelações sobre o próprio caso
do Riocentro; o assassinato do jornalista Alexandre Von Baumgarten, em
1982; a morte do delegado Fleury; a aproximação entre o crime organizado
e setores militares na luta para manter a repressão; e dos nomes de
alguns dos financiadores privados das ações do terrorismo de Estado que
se estabeleceu naquele período.
A reportagem do iG teve acesso
ao livro, editado pela Topbooks. O relato de Cláudio Guerra é
impressionante. Tão detalhado e objetivo que tem tudo para se tornar um
dos roteiros de trabalho da Comissão da verdade, criada para apurar
violações aos direitos humanos entre 1946 e 1988, período que inclui a
ditadura militar (1964-1988).
David Capistrano, Massena, Kucinski e outros incinerados
Cláudio Guerra conta, por
exemplo, como incinerou os corpos de dez presos políticos numa usina de
açúcar do norte Estado do Rio de Janeiro. Corpos que nunca mais serão
encontrados – conforme ele testemunha – de militantes de esquerda que
foram torturados barbaramente.
“Em determinado momento da
guerra contra os adversários do regime passamos a discutir o que fazer
com os corpos dos eliminados na luta clandestina. Estávamos no final de
1973. Precisávamos ter um plano. Embora a imprensa estivesse sob
censura, havia resistência interna e no exterior contra os atos
clandestinos, a tortura e as mortes.”
Os dez presos incinerados
– João Batista e Joaquim Pires Cerveira, presos na Argentina pela equipe do delegado Fleury;
– Ana Rosa Kucinsk e Wilson Silva,
“a mulher apresentava marcas de mordidas pelo corpo, talvez por ter sido
violentada sexualmente, e o jovem não tinha as unhas da mão direita”;
– David Capistrano (“lhe haviam
arrancado a mão direita”) , João Massena Mello, José Roman e Luiz
Ignácio Maranhão Filho, dirigentes históricos do PCB;
– Fernando Augusto Santa Cruz Oliveira e Eduardo Collier Filho, militantes da Ação Popular Marxista Leninista (APML).
O delegado lembrou do
ex-vice-governador do Rio de Janeiro Heli Ribeiro, proprietário da usina
de açúcar Cambahyba, localizada no município de Campos, a quem ele
fornecia armas regularmente para combater os sem-terra da região. Heli
Ribeiro, segundo conta, “faria o que fosse preciso para evitar que o
comunismo tomasse o poder no Brasil”.
Cláudio Guerra revelou a
amizade com o dono da usina para seus superiores: o coronel da cavalaria
do Exército Freddie Perdigão Pereira, que trabalhava para o Serviço
Nacional de Informações (SNI), e o comandante da Marinha Antônio Vieira,
que atuava no Centro de Informações da Marinha (Cenimar).
Afirma que levou, então, os dois comandantes até a fazenda:
“O local foi aprovado. O forno da usina era enorme. Ideal para transformar em cinzas qualquer vestígio humano.”
“A usina passou, em
contrapartida, a receber benefícios dos militares pelos bons serviços
prestados. Era um período de dificuldade econômica e os usineiros da
região estavam pendurados em dívidas. Mas o pessoal da Cambahyba, não.
Eles tinham acesso fácil a financiamentos e outros benefícios que o
Estado poderia prestar.”
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