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sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Ex-agente da ditadura pode ter forjado discurso, diz procuradora

O Ministério Público Federal (MPF) quer obrigar o militar reformado Maurício Lopes Lima, de 75 anos, a depor em juízo sobre ação chefiada por ele que resultou na morte de dois militantes da luta armada contra a ditadura, em 1970. Ele admitiu ter comandado a operação que resultou na morte de Antônio dos Três Reis de Oliveira, de 21 anos, e Alceri Maria Gomes da Silva, 26, em São Paulo.

A procuradora Eugênia Augusta Gonzaga pretende usar o depoimento na ação que acusa o militar de praticar atos de violência contra 20 presos políticos. Na polêmica versão de Lima sobre o episódio, os militantes teriam sido atingidos depois de Antônio disparar contra ele. Mas Eugênia diz que o relato de uma cena de tiroteio pode ser apenas para se eximir de culpa pelas mortes.

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"Muitos casos descritos como tiroteio são, na verdade, simulações de tiroteio para encobrir assassinatos. Era comum encontrar as vítimas com vida, tirar informações sob tortura e executá-las", afirmou a procuradora. "O depoimento indica que a ação está no caminho correto. É muito importante ouvi-lo para desvendar o caso.”

O MPF também tenta localizar os restos mortais dos militantes, que foram enterrados clandestinamente no cemitério de Vila Formosa, em São Paulo. "Sabemos que eles foram enterrados lado a lado, mas a quadra foi descaracterizada nos anos seguintes", diz Eugênia. "Será uma tarefa muito difícil."

Irmã de Antônio, a jornalista Maria do Perpétuo Socorro de Oliveira disse desconfiar do militar. "Não acredito na versão de que ele reagiu. Não queremos revanche — mas a história precisa ser passada a limpo. Se houve tiroteio, é preciso saber se também houve algum ferido do lado dos militares", afirmou ela.

Estudante de economia, Antônio permaneceu na lista dos desaparecidos políticos até 1991, quando foi localizado o laudo do IML. Apesar da desconfiança, a irmã dele disse estar aliviada com o depoimento do ex-oficial. "Passei a vida esperando o dia em que isso ia ocorrer. Nunca fomos atrás dele, mas agora queremos saber a verdade.”

A ação do Ministério Público Federal pede que Lima e outros três agentes da repressão sejam declarados responsáveis por torturas contra presos políticos. Na lista de supostas vítimas do militar reformado estão a presidente eleita, Dilma Rousseff, e Virgílio Gomes da Silva, o Jonas. Ele foi morto sob tortura em 1969.

Da Redação, com informações da Folha de S.Paulo

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