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quinta-feira, 19 de maio de 2011

Altamiro Borges: protesto em Higienópolis incomoda a mídia

O “churrascão em Higienópolis”, o protesto irreverente contra o patético elitismo de alguns moradores deste bairro “chique” da capital paulista, continua rendendo comentários na mídia. Nem dava para esconder o sucesso da manifestação realizada no último sábado – que, segundo a PM, mobilizou 700 pessoas e, segundo os mais otimistas, reuniu 4 mil manifestantes.


Por Altamiro Borges

No geral, os telejornais trataram o evento como uma grande “festa”, sem ressaltar seu caráter eminentemente político de repúdio ao preconceito de 3.500 moradores que assinaram abaixo-assinado contra a construção de uma estação de Metrô – que traria, segundo uma das signatárias, “gente diferenciada” para o bairro, como mendigos, camelôs e os pobres.

A TV Globo, por exemplo, até deu destaque ao churrascão – o que não é comum na emissora, que sempre esconde ou criminaliza os protestos populares. Mas preferiu tratar o episódio em termos “técnicos”, ouvindo “especialista” do governo tucano sobre a utilidade da estação do Metrô. Evitou abordar o caráter classista do evento, a sua crítica ao preconceito da elite paulistana.

O pitbull da revista Veja

Já alguns “calunistas” tentaram desqualificar o protesto. Reinaldo Azevedo, da Veja, foi um dos mais agressivos – se é que algum dia ele não já foi hidrófobo. Preocupado diante do “preconceito contra os ricos”, até mentiu para agradar seus cegos seguidores. Garantiu que o ato no shopping Higienópolis reuniu “não mais do que 50 ou 60 pessoas – e estou sendo generoso”. Ridículo!

“Eu estava no meio da turma, disfarçado de cachorro, para não ser identificado”, relata Reinaldo, o que reforça o seu apelido de pitbull da Veja. Raivoso, ele afirma que os manifestantes eram os “burguesotes extremistas”, os “festivos” e os “petralhas”, como ele rotula, agressivamente, a militância petista e de esquerda. Pelo tom, o protesto irritou o queridinho da nobre famiglia Civita.

Tentativas de desqualificar o ato

Já Fernando de Barros e Silva, da Folha, foi mais cuidadoso, mas não conteve o veneno. Ele realmente esteve no churrascão – sem qualquer disfarce de cachorro. Eduardo Guimarães até teve um bate-boca civilizado com o jornalista “primário”, conforme relato no Blog da Cidadania. Em sua coluna, ele jura que “não pretendo tirar o brilho do evento”, mas procura desqualifá-lo.

Afirma que o churrascão foi “das classes médias (médias mais altas do que baixas). O povão era residual” – como se isto retirasse a importância da mobilização. Ancorado num amigo, diz que “o protesto parecia um playground revolucionário”. E ainda teoriza: o ato expressou “uma fração de classe reagindo ao sentimento ostensivamente antipovo de representantes dessa mesma classe”.

Razões do incômodo

Este incômodo de setores da mídia pode ter várias explicações. A primeira é a rejeição a qualquer protesto popular. As elites têm medo do povo na rua, seja exigindo direitos ou criticando os desmandos das elites. Gente na rua só é bom quando é manietada, quando serve aos seus interesses de classe – como nas marchas golpistas de 1964, insufladas pela Folha e outros jornalões.

A outra explicação decorre da crescente força da internet. Em três dias, sem qualquer material impresso ou ação mais organizada, centenas de pessoas foram mobilizadas para participar de um protesto contra o preconceito da elite. As redes sociais cumpriram papel determinante. Isto deve apavorar um bocado os opressores e os seus serviçais na mídia.

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