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quarta-feira, 4 de maio de 2011

Uma análise do futuro do PT

Enviado por luisnassif
 
 
Falar em futuro, no caso de partidos nacionais, é falar em presidência da república.
Dirceu é um ano mais velho que a Dilma. Só terá uma chance de concorrer à presidência, em 2018 (ou 2019, caso a reforma política aprove o mandato de cinco anos). É estrela que já passou do zênite.
Lindberg, não conheço, mas parece bom articulador, afinal o PT carioca é uma bagunça e mesmo assim ele conseguiu se eleger senador.
Gleisi Hoffman e Maria do Rosário me passam boa impressão, como mulheres firmes e de princípios.
Fernando Haddad tem minha profunda admiração, mas não sei se um intelectual sóbrio como ele tem pulso ou estômago para presidir a república, ou carisma para enfrentar uma eleição.
O PT mineiro fez besteira, se enfraqueceu, mas não está morto. O PT gaúcho voltou a ganhar força.
E há Jaques Wagner na Bahia.
Ou seja, o PT está numa fase de transição de lideranças: cheio de políticos relativamente jovens, cheios de gás, querendo mostrar serviço. A eleição de Dilma foi ótima para arejar o partido da sombra - no sentido mais positivo, dada a envergadura da personagem - de Lula. Se um deles tem o "it" - anglicismo dos anos 40, lembram dele? - para ganhar expressão nacional, resta ver.
Por outro lado, a longa permanência de Lula à frente do PT provocou um vácuo temporário em relação aos outros partidos. O PSB já tem lideranças com mais experiência eleitoral e algum alcance nacional (Ciro Gomes, Eduardo Campos). As lideranças equivalentes do PT - supracitadas - ainda não amadureceram tanto em sua capacidade de articulação.
É por isso, creio eu, que o PT defende a lista fechada. Isso é porque as legendas de centro-esquerda são notórias pela disciplina partidária e convivência com várias correntes internas: coisas que fazem partidos fisiológicos e de direita racharem - como no caso do PMDB, do PTB e agora, do PFL e do PSDB - são resolvidas dentro dos próprios, em seus congressos. As dissidências são normalmente ideológicas e radicais, e tendem a perder expressão política rapidamente (PSTU, PCO), ao contrário das dissidências caciquistas e eleitorais de seus rivais (PSDB no caso do PMDB, e PSD no caso de PFL e PSDB), que costumam conseguir se manter na arena política mas padecem do mesmo pecado original de suas legendas-mães. E, apesar de haver personalidades fortes dentros do PT - Lula, Dirceu -, o partido não é marcado pelo caciquismo.
Ao defender a lista fechada, o PT e, em menor medida, o PC do B, demonstram confiar em sua hipótese de que tal ambiente partidário os favorece por causa dessa disciplina, herdada do marxismo e dos movimentos sindicais e sociais. A declaração de Fernando Haddad sobre a candidatura ao governo de São Paulo é emblemática: "sou um soldado do partido e enfrento a campanha se essa for a decisão da cúpula". Esse é o tipo de coisa que eu jamais ouviria de um membro do PMDB. Esse negócio de soldado do partido é bem coisa de comunista, mesmo que o PT esteja tão longe do socialismo quanto a Terra está de Netuno. Porém, esse também é o motivo por que os quadros do PT, no mais das vezes, crescem dentro do partido, ao invés de virem de outras legendas (com exceção de políticos que vêm de partidos mais à esquerda, como Lindberg ou Agnelo Queiroz). O PT na câmara, por exemplo, só cresce com eleições, nunca com adesões extemporâneas.
(Antes que me tachem de petista, não estou fazendo juízo de valor sobre as características do partido, meramente constatando essas características. Minha simpatia pelo PT é pontual e circunstancial, e compartilho de muitas das críticas que se fazem a ele aqui e alhures.)
A lista fechada pode acirrar os ânimos em legendas menos coesas e aumentar a briga de poder entre os caciques, especialmente no processo de formação das listas. Como já é bastante disciplinado, já usou a estratégia de pedir votos para o partido no caso da última eleição para a Câmara, e já usa o PED para montar os diretórios estaduais há anos, o PT deve estar calculando que vai se fortalecer enquanto os demais partidos se conflagram em contradições. É nessa lógica que entraria a defesa das federações partidárias, que deve voltar à baila quando a proposta de reforma política for a plenário. Se tudo correr como quer o PT, os partidos de centro-esquerda sobreviverão por causa da disciplina interna, mas terão de formar federações estáveis com o PT por causa do fim das coligações proporcionais; os partidos caciquistas vão implodir, a não ser no caso daqueles em que haja apenas um líder inconteste; e o PMDB vai se fragmentar. Em outras palavras, o melê ideológico do PT, citado sempre com desdém por colunistas da midiona - sim, o PIG - pode ser um fator positivo para o partido navegar através da reforma política.
Pode funcionar. Claro que a nova oposição, prevista pelo Sarney, não vai sumir, mas pode sofrer retardo em seu amadurecimento por causa da reforma política. Isso vale bem para o PSB. E, se houver esse retardo, pode ser a janela de que as lideranças mais "verdes" do PT, que têm chance de crescer após o fim da era Lula, precisam para ganhar projeção nacional.

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