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quinta-feira, 19 de maio de 2011

Por enquanto, o máximo que se pode acusar Palocci é de praticar o capitalismo


Palocci tornou-se o político surgido do PT com maior trânsito entre o poder econômico, sobretudo o financeiro e o empresarial de São Paulo.
Ele teve um papel importante na eleição de Lula em 2002, para aproximar o empresariado, diminuindo as resistências e até atraindo o apoio de alguns.
Também desempenhou um papel importante no início do governo Lula para debelar a crise econômica deixada por FHC, sem deixar que desestabilizasse a economia, nem que caísse no buraco em que caiu a Argentina no governo Carlos Menen.
A Presidenta Dilma chegou ao governo com a perspectiva de aprofundar as políticas de Lula consideradas de esquerda. Para ela levar esta sua agenda adiante, sem sobressaltos e sem perda de tempo com crises por falta de interlocução, precisa de articuladores políticos para manter canais de diálogo também com a elite econômica. Lula teve esses ministros articuladores com o empresariado, como o próprio Palocci, o vice Zé Alencar, o Henrique Meirelles, o Luiz Fernando Furlan. Dilma também precisa ter os seus.
O PT não tem muitos quadros como Palocci. A maioria dos petistas tem o perfil de proximidade com os trabalhadores, movimentos sociais e intelectuais. São poucos os que transitam com desenvoltura no empresariado. Muitos petistas torcem o nariz para Palocci justamente por esse perfil que, dentro do PT, o coloca no espectro da direita. Mas alguém tem que fazer esse papel no governo Dilma. Se não for Palocci, provavelmente a Presidenta teria que escalar alguém de fora dos quadros petistas, o que enfraquecerá o PT dentro do governo, entregando essa interlocução para um partido de centro da base governista ou até para um quadro importado dos tucanos.
Entendido esse papel político, vamos para a questão do patrimônio pessoal.
Até agora ninguém apontou crime nenhum de Palocci. É possível ter consultorias honestas e bem sucedidas, e é possível ter consultorias apenas de fachada, até para lavar dinheiro. Mas sem provas (e nem sequer uma denúncia fundamentada), o benefício da dúvida pertence a Palocci.
Ele saiu do Ministério da Fazenda após sofrer seguidos ataques de origem meramente política (Palocci despontava como forte candidato ao governo de São Paulo em 2006, e se não fosse a crise política do chamado “mensalão”, ele teria vencido José Serra ou outro tucano, para governador em 2006). Ninguém atacou sua competência como Ministro (a esquerda atacou as diretrizes, mas não a competência). Ele fez uma política macroeconômica considerada um tanto ortodoxa (o que agrada ao empresariado), mas foi além e realizou avanços e inovações na microeconomia, como o microcrédito, o crédito consignado a juros menores, devido à garantia de pagamento. Isso foi uma das bases do aumento do crédito no Brasil, o que impactou no crescimento do PIB e na geração de empregos.
É possível que banqueiros, investidores, empresários o chamassem para conversar e ouvir sua opinião. Palocci não é PhD de Harvard, mas nenhum PhD de Harvard entende da economia da era Lula como ele. Assuntos como a nova classe média, perspectivas para os próximos anos, cenários da economia, certamente Palocci tinha uma visão melhor do país do que qualquer PhD de Harvard.
Então, por que ele deveria orientar de graça pessoas ricas a decidirem que rumo tomar nos negócios privados?
O caso tem certa semelhança com Ruy Barbosa. Derrotado na corrida presidencial por Hermes da Fonseca, ficou no limbo político, mas pelo seu reconhecido saber era sempre procurado para conversas, que no fundo era consultoria gratuita. Para acabar com a gratuidade, a esposa de Ruy Barbosa cercava os visitantes na saída e dizia “O senhor já acertou com o Conselheiro? O senhor sabe, o Conselheiro também come!”.
Assim faz todo o sentido Palocci ter criado sua empresa de consultoria. Pesa a seu favor ele ter criado a empresa em seu nome, com transparência, sem laranjas, sem ocultar nada.
Pelo que foi noticiado, ele comprou os imóveis a valores de mercado e pagou com o dinheiro legal que entrou na sua empresa. Não ganhou apartamento de presente de empreiteira, não subfaturou, não há indícios de caixa-2, nem de ocultar patrimônio, nem de operações suspeitas em paraísos fiscais; enfim, o que se pode acusar é que praticou o capitalismo: ganhou dinheiro, ficou rico, pagou impostos devidos, e comprou bens.
Só haveria crime e falta de ética se ele tivesse informação sigilosa privilegiada do governo e vendesse, ou se traficasse influência. Ninguém apontou nenhuma evidência de que ele tenha feito isso. E seria o cúmulo da burrice abrir justamente uma empresa de consultoria em seu nome se a idéia fosse cometer esse tipo de falcatrua. Se o objetivo fosse ser desonesto, a esperteza recomendaria abrir qualquer outro ramo de negócio e fazer as maracutaias na calada da noite, sem deixar rastro registrado de consultoria.
Ninguém precisa colocar a mão no fogo por Palocci, e pode ser que apareça mais coisas que não sabemos, mas por enquanto o jornal Folha de São Paulo denunciou que ele ficou rico rapidamente, com sua empresa que cresceu rapidamente.
Haverá quem questione o fato de ser raras as empresas que crescem rápido assim, em 4 anos. Mas é mais raro ainda pessoas chegarem a ser Ministro da Fazenda do Brasil, e Palocci chegou. Por enquanto, só dá para acusá-lo de praticar o capitalismo em suas atividades privadas.
Em tempo: A “catimba” faz parte do jogo da oposição, da imprensa e até do “fogo-amigo”, mas é forçar a barra pedir que consultorias divulguem a lista de clientes e serviços prestados. Consultorias privadas envolvem segredos comerciais das empresas, que se forem divulgados, favorecem a concorrência. O resultado é o mesmo que uma espionagem comercial.
O que Palocci poderia fazer é explicar o tipo de consultoria que prestou de forma genérica, sem entrar nos pormenores, nem identificar empresas e produtos (a menos que haja consentimento delas).

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