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sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Ato em São Paulo contra-ataca a velha mídia golpista

“Este é um ato singelo”. Riso generalizado. Com esta modéstia e muito bom humor Altamiro Borges abriu o ato contra o golpismo midiático, que não coube no auditório, no corredor e quase não coube até mesmo nas escadarias do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo. O abarrotado protesto foi organizado pelo Centro Barão de Itararé na noite desta quinta-feira (23). Como disse o presidente do Sindicato, José Augusto de Oliveira Camargo (Guto), “o desconforto é a prova do sucesso deste ato”. 

Luana Bonone
   A irreverência foi a principal arma contra o golpismo midiático no ato desta quinta-feira (23)
A presença do SBT, do Estadão e de outros veículos da chamada grande mídia – ou “velha mídia”, como definido pelo representante do Movimento dos Sem Mídia Eduardo Guimarães – não intimidou a mesa do ato, composta por entidades de luta pela democratização da mídia, representantes dos movimentos sociais e de partidos de esquerda. Miro fez questão, inclusive, de agradecer a mobilização de cerca de 500 pessoas - segundo a organização do ato - proporcionada pela velha mídia, referindo-se aos ataques à atividade veiculados nesta semana. “Mobilização pelo repúdio”, completou o presidente do Barão, que em seguida leu o documento intitulado “Pela ampla liberdade de expressão”.

Foto: Luana Bonone
Miro leu o documento "Pela ampla liberdade de expressão" rodeado por representantes de diversos movimentos sociais
O documento inicia com respostas a manchetes desta semana: “Após ataques de Lula, MST e centrais sindicais se juntam contra a imprensa” (O Globo); “Oposição critica ato contra a mídia apoiado pelo PT” (Estadão); “Entidades fazem ato contra a imprensa em São Paulo” (Folha), entre outras. Após valorizar a realização do ato no auditório denominado Vladmir Herzog, o documento contra-ataca: “esta visão autoritária, contrária aos próprios princípios liberais, fica explícita quando se tenta desqualificar a participação no ato das centrais sindicais e dos movimentos sociais, acusando-os de serem ‘ligados ao governo’. Ou será que alguns estão com saudades dos tempos da ditadura, quando os lutadores sociais eram perseguidos e proibidos de se manifestar?”.


Propostas provocativas ou provocações propositivas?

A primeira parte da carta lida por Miro é finalizada com a defesa da liberdade de expressão e em seguida são apresentadas cinco propostas, dentre as quais a solicitação de abertura dos contratos e contas de publicidade de veículos da Editora Abril, dos grupos Estadão e Folha e das organizações Globo. O pedido é direcionado à vice-procuradora regional eleitoral, Dra. Sandra Cureau, “a exemplo do que fez recentemente com a revista Carta Capital”. Segundo o documento, “é urgente uma operação ‘ficha limpa’ na mídia brasileira”.

Foto: Luana Bonone
Guto fez questão de assinar sozinho a crata que leu no ato por entender que "as pessoas precisam assumir suas posições", em clara provocação aos grandes empresários da mídia
Depois foi a vez do presidente do Sindicato dos Jornalistas ler a nota “Em defesa dos jornalistas, da ética e do direito à informação”, que esclarece o apoio do sindicato ao ato e é assinada por ele. Segundo Guto, a nota se fez necessária porque a divulgação de que se tratava de um ato “contra a imprensa” fez com que o sindicato recebesse inúmeras ligações questionando sua postura.


Sob gritos como "Serra é Frias!", vindos da muvuca que se acomodava no pequeno auditório, falaram no ato, ainda, o vice-presidente da CGTB, Ubiraci Dantas (Bira), representando o movimento sindical (estiveram no ato, ainda, CTB, Nova Central, Força Sindical e CUT); o presidente da Associação Brasileira de Empresas e Empreendedores da Comunicação (Altercom), Joaquim Palhares; o representante do MST, Gilmar Mauro, e o do Movimento dos Sem Mídia, Eduardo Guimarães; além dos representantes de partidos: o jornalista Osvaldo Maneschy (PDT) – que fez uma respeitável referência ao histórico dirigente do partido Leonel Brizola –, a deputada federal Luiza Erundina (PSB) e o presidente do PCdoB, Renato Rabelo. A UNE também foi citada como apoiadora do ato.

Se falam bem, estamos mal

Gilmar Mauro zombou da velha mídia ao dizer que estava se divertindo, e explicou: “em que pesem os ataques, o povo ta se lixando”. Ao dizer que o MST assina embaixo do documento lido por Miro, Gilmar disse ainda que "quando começarem a falar bem de nós, é porque estamos errados", e deixou um recado: “o próximo governo tem que investir na democratização da mídia”.

Já Eduardo Guimarães disse sentir “vergonha alheia” pelo comportamento da velha mídia: “essa gente é risível, dizendo que nós queremos censurar impérios de comunicação que faturam bilhões...! Tenham noção do ridículo”. E finalizou com uma provocação: “será que os leitores dessa velha mídia não perguntam ‘o que pensam esses bichos-papões?’”. E completou “no dia 3 nós vamos responder”, referindo-se às eleições.

Foto: Luana Bonone
Renato Rabelo, ao lado de Gilmar Mauro (MST) e Nivaldo Santana (CTB), homenageou Guto Camargo com a seguinte frase: "a gente faz história com coragem e determinação"
Quem tem história, tem autoridade


Para Renato Rabelo, o ato foi “emblemático”. Após dizer que a mídia vem radicalizando a luta política no país, Renato afirmou que “o PCdoB tem autoridade para dizer que nós somos os defensores da liberdade de expressão, não eles. Na Ditadura Militar, de que lado eles ficaram?”. Em seguida, fez troça do discurso utilizado por alguns veículos do “autoritarismo” do presidente Lula, assegurando: “não tem país no mundo que tem essa liberdade de imprensa que tem o Brasil”. Para Renato, a velha mídia vai além do golpismo, “é conspiração”.

A última a falar foi também a mais aplaudida. Reconhecida pela sua luta em defesa da democratização da comunicação, Luiza Erundina fez referência à 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) e disparou: “sabe por que eles estão bravos? Porque deu certo o primeiro presidente operário... Sabe por que a reação irada? Porque vamos eleger a primeira mulher presidente, e no primeiro turno!”. A fala final de Erundina resume um pouco do sentimento do ato: “Não venham nos dar lição sobre democracia, nós pagamos muito caro por esta democracia que temos”.

Foto: Luana Bonone
De forma inesperada e emocionante, os manifestantes puxaram espontaneamente o Hino Nacional ao fim do ato
Fora da mesa, dentro do debate


Presidentes de entidades que não puderam comparecer ao ato - embora tenham enviado representação - e outras lideranças comentam o sucesso do protesto. Para o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Arthur Henrique, "o ato foi um sucesso, teve uma representatividade bastante expressiva de vários setores da sociedade, e apontou que não é um ato contra a imprensa, muito pelo contrário, é em defesa da democracia, do voto popular. Acredito que o protesto cumpriu o objetivo de denunciar esta parte da mídia que acaba por ter uma postura parcial em relação à cobertura das eleições".

O presidente da União Nacional dos Estudants (UNE), Augusto Chagas, também valorizou a iniciativa: "foi um ato importante do movimento social brasileiro, que procura responder a um movimento grosseiro que nós já conhecemos. Setores da imprensa insistem em fazer valer a sua opinião, seus interesses, à revelia da maioria da população, então colocam sua força para influenciar no processo democrático. Foi um ato importante para demonstrar que os movimentos sociais, as organizações populares estão atentas e vão continuar lutando contra essa investida".

Na avaliação de José Reinaldo, secretário de Comunicação do PCdoB, o ato foi “magnífico” e “consolidou a Barão de Itararé e suas entidades coligadas como parte constitutiva do movimento social brasileiro, portador da bandeira contra o terrorismo midiático e pela verdadeira liberdade de expressão”. A visão de José Reinaldo Carvalho, presente ao ato, é de que “a mídia, como expressão no plano da política, da ideologia e da comunicação social das classes dominantes do Brasil, pretende pautar o debate político, pautar a campanha eleitoral, definir os temas e adiantar vereditos sobre o que é certo e o que é errado, sobre o que é justo e o que é injusto, verdadeiro e falso. Isso significa que a mídia quer exercer uma ditadura sobre as consciências, castrando o direito à informação. Portanto, é necessário e justo que os movimentos sociais se rebelem contra isso, em nome da verdadeira democracia e da verdadeira liberdade de expressão”, declarou. Para ele, no ato desta quinta-feira “os quadros da esquerda e dos movimentos sociais expressaram a posição de não aceitar o ditame da grande imprensa, da velha imprensa”.

De São Paulo, Luana Bonone

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