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terça-feira, 7 de setembro de 2010

Em entrevistas, uma Dilma marota navega por pegadinhas

Paulo Costa Lima
De Salvador (BA)


Foto: Roberto Stuckert Filho
Veio de uma colega de hidroginástica - segunda idade avançada. Lá pelas tantas me informou do intenso constrangimento daquele 'casal 20' de apresentadores com relação à entrevista da Dilma na tevê, pois eles são petistas convictos. Mas Irá! Você tá de gozação né? Era só o que faltava. E ela, entre halteres e respingos - não! eu sei de fonte limpa.
Como entender o caso? Será que tem mesmo fontes privilegiadas? Ou é mais um exemplo dessa condição atual de perda da noção de distância entre espetáculo e espectadores, virtual e real - alucinando uma proximidade fantástica que não existe? A propósito, Irá não precisa mentir, fala tudo que pensa.
E se fosse verdade? Se estivéssemos diante de um cenário onde um script master é consagrado pela emissora e todos sendo obrigados a segui-lo? Nesse caso precisaríamos iniciar um movimento de solidariedade aos constrangidos jornalistas, que não podem exercer o mais elementar direito de liberdade de expressão em seus próprios programas.
E logo fico a imaginar a ciranda de constrangimentos a rodar e rodar. Se e se..., será que já pressionaram a Cristiana? Sempre a via com muito equilíbrio, mas há poucas semanas parecia estar deslizando na corda bamba dessa pressão.
Analiso um a um os envolvidos que aparecem na minha tela. Fica mesmo a impressão de que certos debates são montados às pressas para impingir a verdade da casa - e a ansiedade de fazê-la emergir acaba crispando um pouco o sorriso da "entrevistadora".
Quando um determinado tema entra em pauta, percebemos que todos os colunistas e apresentadores são convocados a dar sua 'contribuição'. Tudo muito bem ensaiado.
Ontem mesmo foi a vez de outro William, a quem muito admiro pela postura elegante e esclarecida, e novamente com a Dilma em cadeia nacional. Hoje cedo Luis Nassif registrava em seu blog o disparate das perguntas, segundo ele, um teatro armado para virtualizar a campanha.
Na verdade, as perguntas excluíram qualquer peso temático que levasse ao aprofundamento de propostas de governo, ou acerca de polaridades que nos afligem (social democracia versus mercadismo do BC; governo eficiente e participação popular, vulnerabilidades da economia aparentemente pujante etc.), nada disso, lembrou Nassif.
No cardápio, cinco temas que mais parecem pegadinhas: a mudança física de Dilma (o script quer mostrar uma candidata de duas caras); Zé Dirceu no debate; cargos para os aliados; quebra de sigilos; presos de Cuba; Narco e Farcs.
Do ponto de vista da oposição, isso está sendo um desserviço de grande monta, e uma preciosa oportunidade perdida. Não se faz mais emissora como antigamente? Ou será que foi o povo que mudou?
E uma Dilma marota, agora mais confiante, com pesquisas e exposição pública, navega tranquilamente pelas pegadinhas, dá respostas convincentes quase sempre para a câmera certa, mostra conhecimento profundo da perspectiva de governo e de vez em quando ainda faz chacota... ("vocês sabem que eu tenho fama de exigente!").
Olha que o William não rejeita tiradas de humor, assisto-o de longa data. Mas o controle era tal, que nem mesmo um pequeno músculo de vibração simpática foi movido em seu rosto, ao longo de longos vinte minutos. Coitados! Dele e de nós!
E dizem que nem existe mais esse negócio de direita e esquerda - apenas miseráveis e barões - então de que estamos falando mesmo? Do que tenta nos salvar a dedicada emissora ao lançar mão de seu "direito divino" de utilizar esse tipo de script?
Escrevo essas linhas para manifestar minha profunda solidariedade a todos que estão envolvidos na execução desse script ainda mal sucedido, e que engolem suas opiniões próprias em favor da causa. O Mervinho, por exemplo, quanta profundidade e iluminação salpicam daquelas aparentes gagueiras interpretativas. Seria também petista convicto?
Só perguntando a Irá...
PS - Qualquer semelhança com personagens reais é mera coincidência

Fonte: Terra Magazine

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